sábado, 29 de janeiro de 2011
Chuva de Janeiro
Acordo, em todos dias com o mesmo pensamento
Pensamento escolhido, o mais perigoso deles.
Trabalhando, observando, esperando
quase não mais aguentando.
Sem tempo pra dormir, com pouco pra sorrir
Sinto meu calor, meu sangue, quente quanto o sol
Planejando queimar os antigos costumes
Faço de cada dia uma batalha, um novo dia, que o sol sempre queimará.
Ando sozinho pelas galáxias da vida
Sem Deuses, sem drogas, sem pessoas, sem fantasias.
Carregando o peso do mundo nas costas
Pesado a ponto de misturar-se a minha existência.
Segurando, calando a voz
Deixando escapar pequenas faíscas da grande chama
aquecendo-se desse pouco,
manipulando, brincando com as palavras.
Fazendo de cada palavra um destino, um caminho
Esquecendo o antigo menino, o antigo homem
Aquele que nunca existiu, homem de imagem
destruidor de si próprio.
Viajante livre que escolhi ser
ansioso como uma serpente que espera a presa
Mostrando a maçã para os que não enxergam
Ao mesmo tempo que lhes mostro a maçã da sabedoria, destruo-a juntamente com seus costumes.
Lacrimejando os choros passados
Escrevendo o que já foi escrito
Mas com minha mão, com minha vontade
Fazendo dos meus pensamentos minha própria cidade.
Vazio quanto o ar que falta nos pulmões
E livre quanto o humano
Libertando de mim mesmo,
pra enfim sair dessa lama que me leva ao bocejo.
Caem chuvas, passam chuvas
E sempre do mesmo jeito, todos calados
O Sol vem e tudo volta ao normal
Será que só eu tenho olhos para além da poça d'água?
Pobres homens afogados em sua própria saliva...
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