domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Pombo.




Pombo sob meus pés,
mas voando, sim, voando.
Ele que sequer escolheu voar, percorre os céus,
sentindo todo ar em suas narinas e no seu frágil pulmão.

Sem destino algum, não acha, nem procura sentido, sentidos que um cego enxergou e desenhou.
Com canetas sem tinta sobre um papel que já comeram e vomitaram seus restos. Com a mão tremula o sábio de boteco tenta junta-los e fazer-me engolir toda essa imundice, com poucas escolhas, apanho e faço dele o prato do dia.

E lá vem o pombo, rir da minha cara sem brilho. E da minha escolha. Penso em mata-lo, mas estou sobre ele, ele come os restos, as migalhas que as velhas jogam pra ele. Velhas loucas, perderam sua vida patética em cultos ao senhor do Nada.

Já farto de pães velhos e outras comidas de aves. O Pombo dança, voa, e ainda defeca na minha cabeça. Não me pergunto por que ele fez isso, simplesmente aconteceu, sequer fico bravo com tamanha sujeira, livro-me dela e dou um riso de escárnio pra ele.

Ele não aguenta, chama seus companheiros, tentam me devorar não corro deles, enfrento com toda minha coragem. Reconheço o Pombo, ele é diferente dos outros, tem um tom cinza, comum.
Mas algo nele é diferente, talvez suas asas, é, talvez...

Digo apenas duas palavras, e ele abre seus olhos negros, fundo como um abismo. Ele não aguenta ouvir, tampa seus ouvidos fracos de ave velha e explode, sangue e pena pra todos os lados, volto a sorrir e penso que dessa maneira eu não quero voar, é muito baixo pra mim.

Esse pombo, pobre animal. Com as asas tão brandas, com tanta cor, mas com ouvido tão fraco. Não suportou eu dizer "EU SOU!"

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